Desinências nominais e abstratas
–at: em hyapat “costa”, lanat “tecido”, sarat “letra rúmiliana” (SKYAP, LAN, WJ: 396). Significado básico desconhecido; pode representar simplesmente uma forma estendida do radical. Em alguns casos parece indicar algo produzido pela ação verbal correspondente, como lanat “tecido” a partir de LAN “tecer”. Muito provavelmente, as palavras em –at são exemplos dos chamados radicais kalat, formados pela sufixação da vogal raiz (chamada ómataina, WJ: 417) e pela adição de um –t (ver WJ: 392). Assim sendo, a desinência na verdade não é –at, mas apenas –t (cf. rukut produzido a partir de RUKU [WJ: 389]; esta palavra parece não possuir qualquer descendente em quenya).
–ba: talvez uma alomorfa de –wa (veja abaixo) ocorrendo após m: romba “trombeta” a partir de ROM “ruído alto, sopro de chifre”. Alternativamente, o B de –ba é simplesmente parte de uma “fortificação média” M > MB.
–ë combinada com o alongamento da vogal raiz, é usada para produzir o que são propriamente substantivos verbais. Algumas vezes o sentido das palavras produzidas vai do puro abstrato para o mais concreto, indicando um objeto ou fenômeno que é produzido pelo verbo correspondente: nut– “atar”, nútë “nó” (etimologicamente *”atando?”), lir– “cantar”, *lírë “canção” (etimologicamente *”cantando”; a palavra está marcada com asterisco porque só é atestada no caso instrumental: lírinen); cf. também sírë “rio” (etimologicamente “fluindo”) a partir de sir– “fluir”. Este método de derivação parece ser limitado aos radicais verbais do padrão (consoante-)vogal-consoante. Mas a desinência –ë também pode usada para produzir substantivos abstratos a partir de adjetivos em –a: aira “sagrado”, airë “santidade” (PM: 363).
–ië: substantivos abstratos. Em WJ: 394 tengwestië “linguagem [como abstrata ou fenômeno]” é chamada de uma “formação abstrata” baseada em tengwesta “sistema ou código de signos”, *”[qualquer] linguagem [individual]”. (Tengwesta também é listada “gramática” [TEK], mas apenas se referindo à gramática ou sistema de um idioma específico, e não “gramática” como um abstrato). Exemplos de –ië do Etimologias incluem verië “audácia, ousadia” a partir do adjetivo verya “audaz, ousado” (ou o verbo verya- “ousar”, BAR) e voronwië “tolerância, qualidade durável” a partir do adjetivo voronwa “resistente, duradouro” (BORÓN). Note que esta desinência retira o –a final e toda a desinência –ya. Algumas vezes ela pode indicar um grupo de alguma coisa: sarna “de pedra” (SAR), sarnië “seixo, leito de pedra” (CI: 323). Cf. também olassië “apanhado de folhas, folhagem” (< lassë “folha”); o prefixo o– significa “junto” (Letters: 282). A palavra enquië “semana [de seis dias]” a partir de enquë “seis” se refere a uma unidade ou grupo de seis (dias, neste caso).
–lë é tipicamente usada para produzir substantivos verbais: horta– “apressar, impelir”, hortalë “velocidade, encorajamento” (KHOR), intya- “adivinhar, supor”, intyalë “imaginação”, vesta- “casar”, vestalë “casamento” (BES). Estes substantivos verbais podem ser formados diretamente a partir do radical quando este termina em uma vogal: tailë “alongamento” (TAY [ou *TAI] “estender, tornar (mais) longo”), cuilë “vida, estar vivo” (KUY “voltar a si”). No caso de radicais básicos terminando em uma consoante, a desinência –lë pode ser adicionada a uma forma nasal-infixada deles: mancalë “comércio” a partir de manca- “comercializar”, que por sua vez é derivada de MBAKH “troca, permuta”, ou quentalë “narrativa, história” a partir de KWET- “falar”. A desinência –lë também é usada para produzir substantivos concretos a partir de um adjetivo: oia “eterno, perpétuo”, oialë “[?era, idade] duradoura” (A caligrafia de Tolkien estava ilegível; OY), aica “afiado”, aicalë “um pico” (AYAK), merya “festivo”, meryalë “festividade” (MBER).
–ma: desinência que indica uma coisa possuindo alguma relação com o significado da raiz, quer possuindo suas propriedades, quer sendo produzido pela ação verbal em questão, ou mesmo sendo uma ferramenta usada para realizá-la: corma “anel” a partir de KOR “redondo” (corma não é encontrado no Etimologias, mas cf. cormacolindor “Portadores do Anel” em SdA3/VI cap. 4/Letters: 308), parma “livro” a partir de PAR “compor, reunir”, neuma “armadilha, cilada” a partir de SNEW “enredar”. A “coisa” pode ser abstrata ou concreta: alma = abstrata “boa sorte, prosperidade” ou mais concretamente “riqueza” (radical GALA “prosperar”, cf. quenya alya “próspero, rico”). É possível que –ba e –wa sejam alomorfas desta desinência, sendo usadas após m e n, respectivamente.
–më: geralmente indica coisas abstratas ou, pelo menos preferencialmente, intangíveis: melmë “amor” (mel– v. “amar”; MEL), qualmë “agonia, morte” (KWAL “morrer com dor”), hormë “urgência” (KHOR “incitar”), milmë “cobiça” (MIL-IK), nilmë “amizade” (NIL “amigo”). Menos abstratas, mas ainda intangíveis são lúmë “tempo, hora” e lómë “noite” (LU e DO3, DÔ; significado das raízes não dado). Às vezes o sentido abstrato básico é expandido para incluir algo mais concreto: um exemplo é holmë “odor”, enquanto que PQ *ñolmê (reconstrução minha) era o substantivo verbal “cheiro” derivado a partir de ÑOL “cheirar (intr.)”, isto é, dar uma cheirada (cf. também laimë “sombra” a partir de DAY “sombra” [como o verbo “sombrear”?]). Da mesma forma, a palavra telmë “cobertura” também pode ser usada para um objeto concreto: “capuz” (TEL). Cf. também silmë “luz das estrelas” (Apêndice E) ou “luz de Silpion” (Telperion) a partir do radical SIL “brilhar como prata”. Em alguns casos, –më funciona simplesmente como uma desinência nominal: palmë “superfície” a partir de PAL “escancarado”. Pode-se dizer que este e alguns outros casos possuem um significado local: undumë “abismo” a partir de undu “abaixo”, erumë “deserto” a partir de ERE “estar sozinho, privado”, celumë “corrente, correnteza” a partir de KEL “ir, correr (especialmente de água)”. (Não está claro de onde o u de erumë e celumë vem; provavelmente devemos supor que os radicais também ocorrem nas formas *ERU, KELU; a raiz kelu- “fluir rapidamente” é na verdade mencionada em CI: 275.)
–në: evidentemente uma contraparte nominal da desinência adjetiva –na; compare o adjetivo corna “redondo” (KOR) com o substantivo cornë “forma [redonda]” (LT1: 257), compare também sarna “de pedra” e sarnë “lugar forte” (lit. *”algo forte como pedra”? SAR), cf. também lannë “tecido” a partir de LAN- “tecer” (lannë sendo a contraparte nominal da adjetiva *lanna “(algo) tecido”, de modo que lannë = “algo criado ao se tecer”).
–on (-ond-) em andon “grande portão”, aldëon “avenida” – ver –on sob Desinências masculinas abaixo.
–rë: parece que X-rë significa “estado de ter/ser X” (almarë “bem-aventurança” a partir de alma “boa sorte, prosperidade, riqueza”). Não confundir com a desinência feminina –rë.
–së: desinência vista em alguns substantivos, como lapsë “bebê”, litsë “areia” (radicais LAP, LIT, significado não dado), também taxë (tacse) “prego” a partir de TAK “consertar, tornar rápido”, forma primitiva dada como *taksê. No caso de nixë (nicsë) “geada” a partir do radical nicu– “ficar frio, gelado”, deve ser observado que a desinência –së exclui a vogal final do radical (WJ: 417). Esta desinência também ocorre em essë “nome” a partir de ES “indicar, ?nomear”? Ou é apenas a consoante final duplicada?
–sta: vista em tengwesta “gramática” (TEK) ou “sistema ou código de sinais” (WJ: 394). O Etimologias e WJ: 394 não concordam sobre a origem da palavra tengwesta, mas se aceitarmos WJ: 394, que é a fonte mais recente, esta palavra é produzida a partir de tengwë “indicação, sinal, símbolo”, indicando que X-sta significa “grupo de Xs, sistema de X’s”. Contudo, sob KHAW, a palavra primitiva *khau-stâ é definida como “descanso”, indicando que –stâ (> quenya –sta) é simplesmente uma desinência de substantivos verbais. Devemos ignorar esta fonte mais antiga ou concluir que –sta possui várias nuanças de significado? Qualquer que seja o caso, esta desinência não parece ser produtiva em quenya.
–t: em nat “coisa, algo” a partir de NÂ2 “ser”: literalmente *”algo que é”. Esta é, com quase certeza, a mesma desinência –t que é sufixada aos radicais kalat-; ver –at acima.
–wa: em lanwa “tear (subst.)” a partir de LAN “tecer”; possivelmente uma alomorfa de –ma usado após n. Não confundir com a desinência adjetiva –wa.
–wë: basicamente abstratos, como voronwë “fidelidade” (CI: 340, 498), evidentemente a partir do radical BORÓN. Após n, como neste caso, –wë pode ser vista como uma forma alternativa de –më. Palavras em –wë também podem indicar alguma coisa produzida pela ação descrita pela raiz: assim, SKAR- “rasgar, rachar” produz harwë “ferida” (primitiva *skarwê; provavelmente houve uma graduação semântica de “rasgar, rachar” completamente abstratas para uma concreta rent ou ferida).
Desinências masculinas
–do: evidentemente uma alomorfa de –no (veja abaixo) usada primeiramente após l e n. Agental em lindo “cantor” a partir de LIN2 “cantar”. Também em noldo, representando a primitiva –dô (*ñgolodô, WJ: 383), de modo que esta desinência já devia ser distinta de –nô (em forma, se não em significado) no idioma primitivo. (Após l, –no poderia ter se tornado –do por diferen- ciação comum, mas não após n. Cf. Nando, dito descender de *ndandô, WJ: 412.)
–indo: sufixo agental masculino, atestado em melindo “amante” (m.) e colindo “portador” (Cormacolindor “Portadores do Anel”, SdA3/VI cap. 4). A desinência feminina correspondente é -indë.
–ion: em morion “o escuro”, se referindo a Morgoth (LR: 72). Talvez na verdade –on (veja abaixo) sufixada à palavra antiga *mori “preto, negro” (> quenya morë como uma palavra independente, MOR). Fora isso, –ion é uma desinência patronímica significando “-filho” (YON).
–mo: Tolkien observa que “a desinência -mo freqüentemente aparecia em nomes ou títulos, algumas vezes com um sentido agental: Ulmo era interpretado como ‘o Vertedor’ < *UL ‘verter’.” (WJ: 400. Esta interpretação de Ulmo na verdade era outra etimologia popular élfica, pois o nome deste Vala foi adaptado do valarin Ulubôz, Ullubôz.) Mas em ciryamo “marinheiro”, a desinência -mo não possui sentido agental; ela simplesmente é adicionada a cirya navio, de modo que o significado é literal- mente *”pessoa de navio” ou algo parecido. Da mesma forma Súlimo, título de Manwë, parece significar *”pessoa do vento” (súlë, súli- + mo). Outros exemplos são sermo “amigo” a partir de SER “amar, gostar de (de afeição, amizade)” e ingolmo “mestre de tradição” (WJ: 383); cf. n(g)ólë “tradição”; cf. também o nome do Vala Irmo, “Desejoso” (WJ: 403). A contrapar- te feminina de –mo é –më, mas esta desinência é rara.
–no: ainda outra desinência masculina que às vezes é agental, às vezes não: simplesmente masculino em otorno “irmão (de coração” (< TOR “brother”), agental em tirno “observador” a partir de TIR “observar, guardar” (cf. SKAL2), também o pode ser em samno “carpinteiro, armador, construtor” (o significado do radical STAB não é dado).
–o: desinência masculina, algumas vezes com sentido agental: tyaro “realizador, ator, agente” a partir do radical verbal tyar– “causar”, Pityo apelido *”o pequeno” a partir de pitya “pequeno” (PM: 353). Em PM: 340, esta desinência (lá com um sinal diacrítico indefinido) é chamada de “sufixo pronominal” e definida como “uma pessoa, alguém”. Parece que esta desinência é propriamente masculina.
–on: “desinência (de nomes masculinos)” (WJ: 400). Isto é tirado de um contexto em relação ao sindarin, mas esta desinência também é válida em quenya: compare os nomes Sauron e Ancalimon com os adjetivos saura “abominável” e ancalima “o(a) mais brilhante”. De acordo com Letters: 380, Sauron originalmente era Thaurond (th lá sendo escrito com uma letra grega), e o d final pode ser preservado antes de uma desinência (ex: genitivo *Saurondo). Compare a palavra sindarin lhathron “ouvinte” a partir da primitiva *la(ns)ro-ndo (LAS2) e a palavra em quenya fion “?falcão” (a caligrafia de Tolkien estava ilegível) a partir do radical PHI; o plural é dado tanto como fioni como fiondi, de modo que a forma primitiva pode ter sido *phiondo (minha reconstrução). Também encontramos andon “grande portão” (andond-) a partir de ando “portão” (AD). Estas palavras indicam que a desinência –on não é usada exclusivamente em nomes. Cf. também aldëon “avenida” < adj. aldëa “sombreado por árvore” (LT1: 249), embora isto seja “qenya” muito primitivo e possa não possuir autoridade total. Estas palavras obviamente não são masculinas; elas nem mesmo indicam seres animados.
–r ou –ro: desinências agentivas (WJ: 371), como a portuguesa -or: ista- “saber, conhecer” > istar “mago, *conhecedor” (em Letters: 202, Tolkien traduz Istari como “aqueles que sabem”); *envinyata- “renovar” > Envinyatar “renovador”. As desinências -r e -ro também podem ser adicionadas a substantivos: X-r(o), significando então “pessoa possuindo X, tendo a ver com X”, como istya “conhecimento” > istyar “erudito, homem instruído”. É possível que a desinência –r não indique sexo, enquanto que -ro é explicitamente masculina (como –rë é explicitamente feminina). Cf. ontaro, ontarë “progenitor (pai ou mãe)”, m. e f., respectivamente (ONO). Parece que a desinência –ro forma seus plurais em –ri; visto que esta também seria a forma plural de –rë, a distinção de sexo se perde no plural: ontari “pais”.
–u: desinência masculina, às vezes com sentido agental: ERE- “estar sozinho” > Eru “O Um, Deus”, KHER- “governar, reinar” > heru “senhor”. A palavra ainu é um caso especial. Esta palavra, indicando um dos espíritos angelicais originalmente trazidos à existência pelo Único Criador, na verdade era um empréstimo da palavra valarin ayanûz. Mas os elfos acharam que ainu parecia como uma forma pessoal, nominalizada do adjetivo (até então) não existente *aina, e assim eles realmente começaram a usar este adjetivo, dando a ele o significado “sagrado”, a santidade sendo uma característica primária dos Ainur (WJ: 399). Esta etimologia popular indica que a desinência –u (junto com –o) era com freqüência muito usada para produzir formas pessoais, nominalizadas a partir de adjetivos. O equivalente feminino de –u parece ser –i; veja abaixo. (Mas formas plurais como Ainur evidentemente se referem à raça inteira, sem distinção de sexo. Isto provavelmente é verdadeiro para várias das desinências masculinas aqui dadas.)
–wë: de acordo com LR: 398, um “sufixo abstrato” que ocorre em nomes como Manwë, Elwë, Ingwë, Finwë. Contudo, Tolkien posteriormente decidiu que este era simplesmente um elemento significando “pessoa”, “geralmente, mas não exclusiva- mente, masculina” (PM: 340 – o único caso atestada de uma mulher possuindo um nome em –wë é Elenwë). Em Letters: 282, Manwë é traduzido como “ser abençoado”. (Isto também foi explicado como um empréstimo da palavra valarin Mânawenûz; ver WJ: 399.)
Desinências femininas
–ë: desinência feminina, evidentemente a contraparte da masculina –o: antë “doadora” a partir de anta– “dar” (o Etimologias, entrada ANA1, fornece anto “doador”, embora no SdA seja dito que anto significa “boca”). Não confundir com a desinência abstrata ou adjetiva –ë.
–i: desinência feminina, evidentemente a contraparte da masculina -u. Compare heru senhor com heri senhora, cf. também tári “rainha”, aini “ainu feminina”.
–ië: desinência feminina. Valië “Vala feminina”; cf. também nomes femininos como Amárië. Como está evidente a partir do exemplo Vala/Valië, esta desinência pode retirar uma vogal final. Não confundir com a desinência abstrata –ië.
–iel: “filha”, como em Uinéniel “Filha de Uinen” (CI: 207).
–issë: sufixo agental feminino, atestado em melissë “amante” (f.). Cf. também PM: 345.
–indë: sufixo agental feminino, aparentemente o equivalente feminino de –indo, atestado em Serindë “Bordadeira” (embora traduzido “Costureira” em PM: 333).
–llë: sufixo agental feminino, atestado apenas em Tintallë “Inflamadora” < tinta- “inflamar, fazer cintilar”. Nota: –llë também é usada como uma desinência diminutiva; veja abaixo.
–më: o equivalente feminino da desinência masculina –mo: sermë “amiga”, sermo “amigo” – ambas a partir de SER “amar, gostar de (de afeição, amizade)”. Esta desinência parece ser rara, talvez porque ela seja facilmente confundida com a desinên- cia nominal –më.
–rë: desinência feminina, com significado agental em Vairë (*Weirê mais antigo, “Tecelã”, radical WEY “tecer”), mas não em Ilmarë, o nome de uma Maia (a partir de Ilma “luz estelar”). Não confundir com a desinência abstrata –rë ou a desinência –rë indicando um grupo de alguma coisa.
Desinências adjetivas
–a: desinência adjetiva geral: olórë “sonho”, olórëa “sonhador, ilusório” (LT1: 259).
–arwa: “possuidor, no controle de”, ex: aldarwa “arbóreo, árvores crescidas” a partir de alda “árvore” (3AR, em LR: 360).
–ba: talvez a forma –wa (veja abaixo) se pareça com m: himba “aderido, fincado” a partir de KHIM- “fincar, fender, aderir”. Neste caso, a desinência assume um significado quase participial.
–ca: desinência adjetiva usada em radicais terminando em uma vogal: PHAU “bocejar, estar de boca aberta” > fauca “de boca aberta, sedento, ressecado”, POY (significado não dado) > poica “limpo, puro”. Cf. também GAYA- traduzido *gayakâ (chamada de uma “forma adjetiva” em PM: 363) > quenya aica “terrível, horrível, apavorante” após síncope. Esta desinência é muito antiga (quendiano primitivo *-kâ) e pode não ser produtiva em quenya tardio. (Note que no Etimologias, Tolkien produziu aica a partir do radical AYAK, e não como posteriormente, a partir de GAYA- com esta desinência. A desinência como tal também é, apesar de tudo, encontrada no material do Etim.)
–da: ver –na abaixo.
–ë: desinência adjetiva rara; entre nossos poucos exemplos está lissë “doce”, evidentemente produzido a partir do radical LIS “mel” (este adjetivo não é encontrado no Etimologias, mas ocorre no Namárië). Alguns adjetivos parecem exibir uma desinência mais longa –në, como em carnë “vermelho”, varnë “marrom (escuro)”. Contudo, estas palavras também exemplifi- cam a desinência adjetiva –ë, pois o –n– é parte da raiz (KARÁN, BARÁN). Este –ë descende do *-i do élfico primitivo, uma desinência comum em adjetivos de cor. – Note que –ë também é uma desinência feminina e abstrata.
–ëa: representa tanto –ë + a, como em olórë “sonho” > olórëa “sonhador”, como *-aya e *-oya mais primitivos, isto é, a desinência –ya (veja abaixo) adicionada a um radical terminando em alguma vogal: alda “árvore”, adjetivo *aldaya/*aldaia (minha reconstrução) > aldëa “sombreado por árvore” (LT1: 249).
–ima: “X-ima” freqüentemente significa “X-ável”, “apto a X” ou “merecedor de X”: cf. alguns adjetivos com o prefixo privativo ú– “in-“: a partir do radical verbal not– “contar” é produzida únótima “incontável”, e a partir de quet– “falar” vem úquétima “indizível”. Note que a desinência –ima faz a vogal raiz se tornar longa se não for seguida por um encontro consonantal (tyelima “final” [KYEL] e mirima “livre” [MIS] não se encaixam neste padrão; aqui e em alguns outros casos, –ima parece funcionar simplesmente como uma desinência adjetiva). Cf. também Fírimar, traduzido “aqueles capazes de morrer” em WJ: 387 (cf. fir– “desvanecer, morrer”). Aqui o adjetivo é usado como um substantivo e adota a desinência nominal de plural.
–in: em qualin, firin, ambas significando “morto” (KWAL, PHIR), cf. também quorin “afogado” (LT1: 264).
–ina é evidentemente uma forma mais longa de –in: malina “amarelo” (SMAL), telpina “de prata” (KYELEK). É confirmado que –ina deve ser compreendida como uma variante mais longa da desinência –in mencionada acima pelo fato de que um adjetivo significando “aberto, livre, limpo (de terra)” é dado como latin(a) sob LAT.
–inqua: desinência com o significado básico “cheio, completo”: alcarinqua “glorioso” basicamente significa *”cheio de glória” (alcar “glória” + –inqua). WJ: 415 também menciona uma desinência alternativa *-unqua (na verdade, apenas a forma arcaica –uñkwâ é dada) que era usada para produzir adjetivos “aplicados a coisas pesadas, desajeitadas, feias ou ruins”. Porém, tais adjetivos não são atestados.
–itë ou –ítë, desinência adjetiva rara: hanuvoitë “masculino”, inimeitë “feminino” (INI). Cf. também maitë “útil, hábil, jeitoso” a partir de má “mão” (MA3) e hloníti “fonético” (pl.; sing. *hlonítë; WJ: 395), claramente derivada de *hlon “som” (apenas o pl. hloni é atestado”, WJ: 394).
–na: basicamente a desinência para o particípio passado (ou passivo), ainda usado em quenya, mas às vezes é difícil distinguir estes particípios de adjetivos, ou realmente impraticável apresentar esta distinção. Assim, harna “ferido” a partir de SKAR- “rasgar, rachar” (primitivo *skarnâ). Em cuina “vivo” a partir do radical KUY- “vir a si, despertar”, o adjetivo descreve a condição na qual alguém se encontra ao completar a ação indicada pelo radical verbal (cf. a relação semântica entre o verbo português ir vs. o particípio passado correspondente ido). A desinência –na pode mudar para –da após L, como em helda “nu” a partir da primitiva *skelnâ (radical SKEL).
–rin: uma desinência encontrada freqüentemente nos nomes de idiomas, sindarin, vanyarin, valarin etc. Mas tais palavras também podiam ser usadas como adjetivos gerais: “Quando os historiadores precisaram de um adjetivo geral ‘quendiano, pertencente aos elfos como um todo’, eles criaram o novo adjetivo quenderin (no modelo de Eldarin, ñoldorin, etc)” (WJ: 407). Estas palavras podem ser chamadas de adjetivos étnicos. Algumas vezes expandidos para –rinwa: noldorinwa, sindarinwa.
–sa: em telepsa “de prata” (KYELEP). Provavelmente não produtiva em quenya.
–wa: desinência adjetiva que às vezes parece relacionada à desinência possessiva –va, às vezes não: anwa “real, verdadeiro” (ANA2), noldorinwa “noldorin” (ver –rin).
–vëa: desinência adjetiva com o significado específico de “ser como alguma coisa”: él “estrela”, elvëa “estelar”, pl. elvië. (O é longo em él se torna curto antes do encontro lv.)
–viltë, –valta: “sem” (ver Parma Eldalamberon #11 pág. 23), evidentemente usada para produzir adjetivos como “inútil” etc., mas os adjetivos como tais não são atestados. Esta desinência pertence ao “qenya” muito primitivo, mas nenhuma desinência correspondente é conhecida em quenya maduro.
–ya: desinência adjetiva geral: númen “oeste”, númenya “ocidental”. (Nota: –ya também é uma desinência verbal freqüente, aparentemente não relacionada.) Veja também –ëa acima. Adjetivos em –ya (assim como outras desinências) também podem ser usados e declinados como substantivos. Attalya “bípedes” (WJ: 389) é claramente o adjetivo *attalya “de dois pés, de duas pernas” (atta “dois” + tal– “pé” + ya) com a desinência nominal de plural –r.
Desinências verbais
–ya: desinência verbal geral: sirya– “fluir” a partir do radical SIR, de sentido parecido. Esta desinência não parece modificar o significado do radical de qualquer modo. Ela não deve ser confundida com a freqüente desinência adjetiva –ya, que aparente- mente não é relacionada.
–sa: evidentemente uma desinência “freqüente”, atestada em lapsa– “lamber (freqüentemente)” (LAB). O verbo normal lav– evidentemente significa lamber alguma coisa (geralmente no sentido de prová-la) uma vez. Não confundir com a desinência adjetiva –sa (que parece ser igualmente rara).
–ta: outra desinência verbal geral, algumas vezes tão geral como –ya, outras com um significado causativo: tul– “vir, chegar”, tulta– “invocar” (= fazer vir) (TUL), airë adjetivo “sagrado”, airita– “santificar” (= tornar sagrado) (de acordo com o Vinyar Tengwar #32 pág. 7, esta palavra ocorre no material não publicado). Mas em alguns casos, esta desinência parece ser esco- lhida apenas sobre o fundamento de eufonia, isto é, ela é freqüentemente usada em radicais que terminam em uma vogal ou semivogal: roita “perseguir” a patir de ROY “caçar”, caita “estender, deitar” a partir de KAY “deitar” (o verbo caita não é dado no Etimologias, mas é atestado no Namárië).
Existem também exemplos de verbos sendo produzidos a partir de adjetivos, como cúna “curvado” > cúna– “curvar” (MC: 223), ou harna “ferido” > harna– “ferir” (SKAR).
Variadas
–il: em siril “córrego” a partir de sir– “fluir”, a desinência parece indicar um agente impessoal (mas ela pode ser apenas uma forma variante da desinência diminutiva –llë; veja abaixo). Cf. também sicil “adaga, faca” a partir de SIK (significado da raiz não dado) e tecil “pena (de escrever)” a partir de TEK- “escrever”; a forma primitiva é dada como *tekla; o i evidentemente é inserido após a perda do *-acurto final para desmanchar o encontro final *-kl. Em pelo menos uma palavra, –il parece funcio- nar como uma desinência agental normal: *nacil “vencedor”, atestada apenas (na forma –dacil) em palavras compostas como Hyarmendacil “Vencedor do Sul”, o nome assumido por um rei gondoriano. Certamente este elemento vem a ser produzido a partir de *ndakla, o radical NDAK significando “matar” (LR: 375).
–incë: desinência diminutiva: atar “pai”, atarincë “papai” (PM: 353) Em CI: 222, Zamîn se dirige à jovem Ancalimë como hérincë, significando evidentemente *”pequena senhora” (heri “senhora”, veja KHER; mas é longo em hérincë pode sugerir que esta palavra é derivada de hér-, a forma de heru “senhor” que é usada antes de uma desinência [PM: 210], indicando que a desinência –incë não apresenta o sexo).
–llë: desinência diminutiva. Nandë “harpa”, nandellë “pequana harpa” (ÑGAN. Também em nellë “riacho”? [NEN] Cf. nén “água” – de forma que *nen-lë > nellë, lit. *”pequena [corrente de] água”?) Não confundir com a desinência feminina em Tintallë.
–në: um grupo de alguma coisa: carca “dente”, carcanë “fileira de dentes” (KARAK).
–rë: desinência indicando um grupo das coisas em questão: fanya “nuvem”, fanyarë “os céus… os ares superiores e as nuvens” (MC: 223). Poderia a desinência –në, que parece ser de sentido similar, simplesmente uma leitura errada para –rë? Carcanë deveria ser lida *carcarë?
–ssë: sufixo indicando abstrato ou localidade, não confundir com a desinência locativa (embora esta possa estar relacionada). Exemplos de tal derivação incluem Vala “poder angelical, deus” > valassë “divindade” (BAL), laiqua “verde” > laiquassë “verdor” (LT1: 267), handa “inteligente” > handassë “inteligência” (KHAN), hópa “baía” > hopassë “ancoradouro” (KHOP; o ó longo de hópa é encurtado), findë “cabelo” > findessë “os cabelos; o cabelo de uma pessoa como um todo” (PM: 345). Cf. também celussë “regato, água caindo rapidamente de uma fonte rochosa” a partir da raiz kelu– “fluir rapidamente” (CI: 318).
–ya: “sufixo de afeto” mencionado em CI: 249, visto em Anardilya *”querido Anardil” (CI: 195). Não confundir com as desinências verbais e adjetivas –ya.
Prefixos
ala– “não-, des-“: Alahasta “Desfigurado” (MR: 254). Este prefixo parece ter o poder de transformar o radical verbal seguinte em uma particípio passado mesmo se nenhuma desinência participial explícita estiver presente. Ao contrário de ú– (veja abai- xo), este prefixo não parece ter conotações negativas.
am– “prefixo am- acima” (AM2), visto em amortala “levantamento”, literalmente *”levante”, indubitavelmente am + ortala (MC: 222; orta– = “erguer, levantar”). Evidentemente se torna ama– antes de uma consoante; cf. amatixë, ponto (tixë) colo- cado sobre a linha de escrita, literalmente *”ponto-acima” ou *”sobre-ponto”. Também amba– *”para cima” em Ambalotsë “Flor Ascendente” (WJ: 318; cf. amba “acima, para cima”, AM2).
an– “prefixo superlativo ou intensivo” (Letters: 279), de modo que ancalima “o mais brilhante”, a partir de calima “brilhante”.
apa– “após”, em Apanónar “os Nascidos-depois” (um nome élfico para os homens, WJ: 387/Silm cap. 12), também em *apacenya “de previsão” (pl. apacenyë atestado em MR: 216; isto literalmente se refere a pós-visão – o que virá após o presente). Variante ep– em epessë “apelido” (lit. “pós-nome”, isto é, um nome dado após o nome usual, CI: 301). Parece que ep– é usado ao invés de apa– quando a palavra a qual ela é prefixada começa em uma vogal.
ata-, at– “atrás-, novamente-, re-” (AT[AT]). De mera repetição, en– pode ser mais usual, mas ata– aparentemente também pode implicar reversão de algum tipo (cf. nota de Tolkien “atrás”).
au– um prefixo que é melhor explicado comparado com hó-; veja abaixo.
ava– um prefixo que ocorre em certos adjetivos, indicando algo proibido ou perigoso: Tolkien compara avaquétima “para não ser dito, que não deve ser dito” e avanyárima “para não ser contado” com úquétima “indizível, impossível de dizer” e únyárima “impossível de relatar” (ex: porque os fatos não são conhecidos, e não porque alguém proibiu que se contasse o conto). (WJ: 370)
can– “quadri-” (KÁNAT), não atestado em qualquer palavra composta real; um exemplo poderia ser *cantil “quadrado” (cf. neltil “triângulo”, ver nel-).
en– “re”: enquat– “reencher” (futuro enquantuva no Namárië), entulessë “retorno” (CI: 193). Uma variante primitiva em “qenya” possuía, por sua vez, an-; ver LT1: 114, 184.
ep– “após”, ver apa– acima.
et– “para fora, fora”. Usado em um verbo, em ettul-, provavelmente *”sair, surgir” (SD: 290, cf. ET, TUL)
hó– “fora, desde, dentre”, prefixo usado em verbos. De acordo com WJ: 368, o “ponto de vista estava fora da coisa, lugar ou grupo em pensamento”. O verbo hótuli– *”vir desde” significa assim vir de fora, “de modo a deixar um lugar ou grupo e entrar em outro no pensamento ou lugar do falante”, e de maneira similar hóciri- *”cortar de” significa assim cortar, isolar “de modo a ter ou usar uma porção exigida”. Compare o prefixo au-, que possui um significado parecido *”de, fora”, mas aqui o ponto de vista permanece com a coisa, lugar ou grupo em questão. Auciri- também significa “cortar”, mas agora para se livrar de uma porção.
il– prefixo de negação *”in-, des-“; ele “denota o oposto, o reverso, isto é, mais do que mera negação” (LT1: 255). Sob o radical PHIR temos firin “morto” e ilfirin “imortal”; pode ser visto que a forma negada não significa simplesmente “não mor-
to”.
lin– “muito” (LI), prefixado a adjetivos como lintyulussëa “tendo muitos choupos” (isto é, lin– “muitos” + tyulussë “choupo” + a desinência adjetiva –a). Lil– assimilado em lillassëa “muito folhoso” (pl. lillassië no poema Markirya), isto é lin– “muito” + lassë “folha” + a desinência adjetiva –a.
nel– “tri-” (NEL), neltil “triângulo” (TIL).
nu– *”sob” em nuhuinenna “sob a sombra” (SD: 246), provavelmente também em nucumna “humilhado” (SD: 246) – literalmente *”sob-inclinação”.
nun– *”sob, abaixo, debaixo”, atestado em nuntixë *”sob-ponto”, um sinal abaixo da linha de escrita (TIK).
o– (vogal longa quando enfatizada: ó-) “um prefixo freqüente… usado em palavras que descrevem o encontro, junção, ou união de duas coisas ou pessoas, ou de dois grupos vistos como unidades. Assim: o-mentië (encontro ou junção das direções de duas pessoas) como na saudação familiar entre duas pessoas, ou duas companhias, cada uma indo por um caminho que acaba por se encontrar com a da outra: Elen síla lúmenna omentielvo! ‘Uma estrela brilha sobre a hora do encontro de nossos caminhos.’ … Este prefixo geralmente não era enfatizado em verbos ou derivados de verbos; ou geralmente quando a próxima sílaba seguinte era longa. Quando enfatizado, ele possuía a forma ó-, como em ónoni ‘gêmeos’, além do adj. onóna ‘nascido gêmeo’, também usado como um substantivo ‘um de um par de gêmeos’.” (WJ: 367). Cf.também otorno *”com-irmão”, isto é, um irmão de coração em oposição ou em acréscimo a um natural (toron, torn– “irmão”). Note que este prefixo, ao contrário de yo– (veja abaixo), se refere primeiramente a duas pessoas, coisas ou grupos. Contudo, este não parece o caso em olassië “grupo de folhas, folhagem” (< lassë “folha”), que aparentemente se refere a qualquer número de folhas reunidas (Letters: 282).
oa-, oar– *”distante, ausente”, “ocasionalmente usado como um prefixo em palavras compostas de formação posterior” (WJ: 366). Oareldi *”Eldar-Ausentes”, elfos que partiram de Beleriand para Valinor, em oposição àqueles que permaneceram lá (os sindar). (WJ: 363 cf. 360)
ter– “através”. Usado em verbos, este prefixo pode indicar duração no tempo, de modo que termar– “através-permanecer” (CI: 340, 497) significa “permanecer” no sentido de “perdurar”. Também no substantivo tercen “percepção”, literalmente *”através-da-visão” (MR: 230).
ú– “não-, in-, des-” (GÛ) freqüentemente, embora não sempre, com conotações negativas: úquétima “indizível”, (WJ: 370), únótimë “incontável” (pl., do Namárië). Também usado em substantivos: vanimo “belo”, úvanimo “monstro”, isto é, exata- mente o oposto (BAN). Usado em substantivos, ú também pode implicar ausência da coisa em questão: úner “homem ne- nhum” (CI: 244).
un– “descida, abaixo”. Em untúpa “abaixo-topos” (= coberturas) (Namárië cf. RGEO: 67). Este prefixo pode bem ser pro- dutivo, de modo que podemos cunhar palavras como untul– “vir a baixo” = “descer”.
undu– “abaixo” em undulávë “mergulhado” (Namárië cf. RGEO: 67). Esta aparentemente é uma forma mais longa de un– usada quando a última produziria um encontro consonantal não permitido em quenya como **nl neste caso. Em LR: 47 também encontramos um prefixo unu-, que pode ser tornado obsoleto por undu– do Namárië.
yo– é basicamente a preposição “com”, junto com (SD: 56: yo hildinyar *”com meus herdeiros”); ele ocorre como um prefixo em yomenië “encontro, reunião” (de três ou mais vindo de diferentes direções). (WJ: 407) Compare com o– acima.